Dizem que você não deve tomar nenhuma decisão importante na vida num momento de tristeza pela mesma razão que você não deve ir a um supermercado com fome. Em ambas as situações, quem acabará decidindo seus próximos passos não será você de verdade. No caso da tristeza, quem assumirá o controle será o seu coração despedaçado; já no do supermercado, o estômago esfomeado. Partindo desse pressuposto, entende-se que as melhores decisões da vida serão tomadas quando você estiver feliz e de barriga cheia, certo? Certo? Será mesmo? Ou será essa mais uma filosofia de botequim? Bom, sendo ou não, foi exatamente isso que aconteceu com a gente, e esta é a história que vim contar para vocês!
Nós não estávamos infelizes nem famintos. Muito pelo contrário. Estávamos mais do que satisfeitos. Família unida, amigos incríveis, empregos dos sonhos! Sabe aquela fase em que tudo corre maravilhosamente bem? Aquele momento na vida em que você é capaz de deitar a cabeça no travesseiro, suspirar fundo e repetir mentalmente “obrigada, obrigada, obrigada”? Pois então… Prazer, nós somos a Thelma e o Tadeu e essa era a nossa vida.
Essa ERA a nossa vida até que o “tudo aquilo” se transformou em “só aquilo“. Até uma sensação de vazio começar a tirar o nosso sono. Sentíamos como se já tivéssemos zerado o jogo. Isso, zerado o jogo! E o que você faz quando zera um jogo? Espera os créditos terminarem e começa a jogar de novo? Já sabendo de todos os truques? Conhecendo todos os atalhos? Antevendo cada ataque? Sabendo a localização exata de todas as portas invisíveis em que você deve entrar?
É óbvio que ainda tínhamos muita grama para comer e dezenas de objetivos para atingir. O problema era que todas as nossas metas eram vazias e superficiais, focadas em muito além do que realmente precisávamos para viver e, pior, que no final das contas não nos levariam a lugar nenhum. Uma casa maior? Nosso apartamento atual comporta muito bem as nossas coisas. Um carro melhor? Para quê? Quem dirige em São Paulo sabe que um carro com mais cavalos de potência não te ajuda em nada. A pergunta que passamos a nos fazer diariamente era: “Vamos seguir jogando alucinadamente para quê”?
Foi aí que decidimos trocar de cartucho (sei que hoje em dia é Blu-Ray, mas eu sou da era do Master System, então, mentalmente, ainda troco cartuchos!) e incrementar o nosso ciclo de vida. Ao invés do clássico “nascer, crescer, reproduzir e morrer”, nós decretamos que o verbo viajar entraria nesse balaio, no sentido mais abrangente da palavra. Afastamos então os móveis da sala, abrimos um mapa-múndi daqueles bem grandes no chão e fomos circulando todos os lugares que gostaríamos de conhecer. China, Nova Zelândia, Nepal, Uganda, Polinésia Francesa… E se no papel parecia incrível, quando o sonho se tornou realidade ele passou a ser extraordinário, fabuloso, fenomenal, inacreditável, incrível, sensacional etc etc etc.

Índia
Os 30 países circulados naquela manhã se transformaram em 41 visitados em 365 dias. Sim, exatos 365 dias! Viajando a pé, de bicicleta, carro, trem, barco, ônibus, avião. Morremos de calor, passamos frio, choramos de alegria, trememos de medo, sofremos com a saudade. Saudade do arroz, do feijão, do pai, da mãe, da paçoca, da caipirinha e do churrasco. Mas, apesar de tudo e por isso tudo, quando alguém nos pergunta se nós repetiríamos a dose, respondemos sem titubear quase que simultaneamente: “Quantas vezes forem possíveis!”.
Uma Nikon D5100 tornou-se a nossa companheira inseparável de jornada, registrando tudo o que desejávamos que fosse inesquecível. E o resultado dessa parceria foi poder…
… estar em Sapporo em busca de um Japão sem influência externa e sermos, por alguns dias, os únicos ocidentais por ali.

Sapporo, Japão
… trabalhar numa fazenda orgânica em Pequim buscando entender como é viver de forma saudável no país mais poluidor no mundo.

Pequim, China
… viajar de trailer pela Nova Zelândia em busca de uma natureza intocada e do céu mais incrível do planeta.

Nova Zelândia
… trocar experiências com monges cambojanos que se aproximaram para praticar o inglês e partiram sabendo que nem só de futebol vive o Brasil.

Camboja
… nadar com baleias azuis na Polinésia e, durante um mergulho, escutá-las cantar.

Polinésia Francesa
… fazer uma trilha de cinco horas numa floresta apelidada de impenetrável atrás do maior tesouro de Uganda, os quase extintos gorilas da montanha.

Uganda
Antes que você nos julgue, eu me antecipo: não, nós não somos ricos (a não ser que você, assim como a gente, considere saúde um tesouro). Também não fomos patrocinados por ninguém além de nós mesmos. Nunca tivemos ou fizemos rios de dinheiro trabalhando, mas a partir do dia em que abrimos o mapa-múndi na sala, não conseguíamos pensar em outra coisa. Estávamos muito mais do que focados, a nossa volta ao mundo passou a ser prioridade número um nas nossas vidas. Mudamos completamente nosso estilo de vida “apenas” pensando na experiência maravilhosa que estávamos prestes a viver.
Toda vez em que abríamos mão de algum programa com amigos ou cortávamos o que antes era tido como essencial e passou a ser supérfluo, lembrávamos de estar poupando para algo muito, muito maior! Exemplos? A já semanalmente sagrada pizza Margherita das quartas-feiras e aquele pacote super mega hiper blaster da TV a cabo com milhares de canais inúteis foram os primeiros a sair de cena. Durante a viagem, quando fizemos refeições com menos de US$ 1 e nos hospedamos em lugares por menos de US$ 15, tivemos certeza de que toda a nossa economia valeu a pena!

Polinésia Francesa
Foi fácil? Óbvio que não! Mas sempre que as dúvidas surgiam, nós repetíamos, quase que como um mantra, aquela famosa frase que lemos diariamente na internet: “Viajar é a única coisa que você compra que te deixa mais rico”. E quer saber? Depois de 365 dias viajando, nós nunca estivemos tão ricos como agora!

Botswana

Grécia

Portugal

China

Laos

Tailândia

Jordânia

Índia

Malásia

Emirados Árabes Unidos

Japão

China

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