Começo dizendo que não parti em viagem depois de adulta, depois da faculdade, depois do trabalho, com meu marido ou algo parecido. Essas viagens já duram há 15 anos, entre idas e vindas. Viajar é tão meu que não sei bem quando começou, mas para “dados científicos” vamos dizer que foi em julho de 2000. Talvez um pouco antes, uns 2 anos antes, quando minha prima mais velha fez 15 anos e viajou para a Disney, em Paris. Aquilo me encantou e aos 13 anos simplesmente avisei meus pais que aos 15 gostaria de viajar também. Não, não sou de família rica. Minha mãe, enfermeira, sempre trabalhou em 2 ou 3 hospitais, meu pai, advogado, lutou muito até conseguir seu diploma, tendo sido vendedor, representante e muitos outros mais. Mas isso não me impediria, faria o que fosse preciso pra conseguir a minha primeira viagem.
Aos 14 anos fiz um trato com meus pais, caso passasse em uma escola técnica estadual (as famosas ETE’s de SP) eles me dariam a viagem, pois economizariam com a escola particular, e assim o fiz. Estudei até quando não podia mais e passei. “O combinado não sai caro”. Quinze dias na Disney ou um mês em Londres? Lá fui eu para um mês de intercambio em Londres, aproveitaria para estudar além de conhecer a cidade. O destino? Um pensionato de freiras que só aceitava meninas! Sem frescura. Arrumar quarto, estudar, lavar roupa, passar, cada tarefa feita me enriqueceu, me enriquece. E foi ali no coração da terra da Rainha que me desafiei: andaria por 30 países até os 30 anos!
Viajar é tão meu que aos 22 anos larguei família, namorado, amigos, “o emprego perfeito”, tudo e fui trabalhar de garçonete em um navio de cruzeiro. Sim, 12h de trabalho braçal diários pela graça de poder acordar cada dia em um destino diferente.
Foram mais 11 países em 6 meses: Brasil, Argentina, Uruguai, Marrocos, Espanha, Portugal, Itália, Grécia, Croácia — e aqui faço uma observação para meu grande passeio de 30min por Dubrovnik. Mas ta lá. PISEI.– Malta e Inglaterra (eu sei, já conhecia Londres e os arredores, mas dessa vez estava em Gibraltar, pedaço de terra Britânico na pontinha da Espanha)
Foram 6 meses de trabalho intenso, convivendo com gente de todo mundo, um lugar “sem leis”, rico pelas experiências e desafios diários. Afinal, onde mais poderia encontrar no mesmo quarto Brasileiros, Filipinos e Peruanos conversando? Fui sem pestanejar, pensei em abandonar diversas vezes já que não estava acostumada a tanto trabalho pesado (o serviço de garçonete consiste basicamente em limpeza constante e carregar bandejas, mas faça isso todos os dias se equilibrando no meio do mar…), mas tinha um propósito a cumprir. Abandonei o contrato quando cheguei onde queria. E o fiz feliz.
Voltei pra casa disposta a ter uma vida “normal”, até onde podia, voltei a procurar trabalhos em publicidade, mas já estava certa de que minhas primeiras férias seriam em Paris. Pulei em alguns galhos até conseguir o emprego que me satisfazia e me permitiu mais essa conquista. Foram 32 dias na capital francesa, me recusei a sair dali, queria viver como uma Parisiense, aproveitei para fazer workshops em fotografia (minha atual profissão!) e viver como eles! Já andava de metro sem me preocupar, já não ligava para pegar o pão com a mesma mão do dinheiro, já me sentia em casa. E quando isso acontece, está na hora de um novo destino.
Voltei. Já pensando em mais férias. Foi mais um ano de preparação. Jornada dupla, de dia batia cartão e a noite virava madrugadas pesquisando destinos, preços, hostels, passeios. Dessa vez, com a mochila nas costas, encarei –sozinha como sempre–: Holanda, Alemanha, Rep. Tcheca, Aústria, Hungria, Bulgária, Romênia e Turquia. E teve de tudo! Desde passeio a lugares abandonados em Berlim, à mala extraviada, taxista louco, dinheiro perdido, uma fantástica viagem de trem pela Romênia etc etc etc. Mas o que trago dessa viagem é que em nenhuma noite jantei sozinha. Fiz amizades que nunca mais encontrarei, mas que fizeram meus dias especiais. Contamos, compartilhamos, rimos. E não há nada melhor. Mochilar é de fato meu estilo.
Com tanta experiência em organizar viagens, virei a guia oficial da família. Responsável por organizar as viagens em casa foi assim que fui parar na Suíça e também no Vaticano. (Mas vou confessar que viajar com minha mãe e meu irmão não é tarefa fácil! rs)
Dois mil e treze encontrei alguém para dividir esse mundo maluco comigo. Alguém que não diz “vamos ver” e esquece. Ele disse e de fato viu, veio e viveu comigo 30 dias fantásticos! Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Estônia e Rússia! E se querem um conselho, não assoviem na Rússia. É extremamente mal educado ( e eu aprendi da pior maneira possível).
Se você está contando deve ter chegado em 28 até agora, certo? Esse ano fui até ali no Chile passar uma semaninha no meio do deserto, eu e meu marido. É, essa viagem não será mais só, chega de selfies! Vinte e nove… falta um. Faltam 9 meses para os 30 anos. E agora? Para onde ir? Quase encerrando um desafio, já me pego pensando no próximo. Mais 60 países até os 60 anos.
E que venha o mundo!
Todas as fotos © Lia Oliveira

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