Eles conheceram culturas de lugares que muita gente sequer inclui no roteiro, passando pela Mongólia e o Cazaquistão. Depois de 138 mil km rodados, 54 países e 1.300 dias longe casa, o casal de brasileiros Isabela Miranda e Rafael Ávila finalizou sua longa jornada de 3,5 anos ao redor do mundo a bordo de um jipe e conversou com o Nômades Digitais sobre o fim dessa experiência fascinante.
A aventura da dupla começou como uma Lua de Mel e apareceu por aqui quando completaram dois anos de estrada. De janeiro de 2013 até agora muita coisa aconteceu, muitos aprendizados foram absorvidos e muitos obstáculos foram ultrapassados. Partindo da América do Sul e chegando até a Porta do Inferno (que você vai ver abaixo), esses dois tem como próximo passo lançar o livro “DayTrippers – 1300 dias pelo mundo” para relembrar lugares e descobrir futuros destinos.
Batendo um papo com eles, conseguimos ter um gostinho de como foi essa viagem a bordo d0 jipe Curumim e ainda saber de algumas curiosidades.
Nômades Digitais: Três anos e meio, 54 países depois: o que mudou?
Muita coisa, com certeza. Nossa maneira de ver o mundo é outra, vemos beleza em tudo, vivemos de maneira mais simples, estamos mais desapegados e agradecidos por tudo que vivemos nesses 3,5 anos de estrada. Crescemos muito como casal, costumamos dizer que 3,5 de viagem juntos 24 horas por dia é o equivalente a 10 anos de casamento. Nossa relação está mais forte, sempre baseada no respeito, amizade e carinho. Estamos mais tranquilos também em relação ao lado profissional, certos de que sempre haverá uma forma e um caminho de tocar a vida que nos faça mais sentido.
ND: Qual é a sensação de voltar pra casa? Do que vocês mais sentiram saudades?
Está tudo meio estranho ainda, mas a sensação de estar em “casa” novamente é simplesmente relaxante. Não dá para fugir do óbvio, sentimos muita saudade da família e dos amigos, muito tempo longe das pessoas que amamos.
ND: Qual foi a maior vantagem e a maior desvantagem de ser um overlander?
A viagem overlander te faz um ser livre pelo mundo, para ir aonde quiser quando bem entender. Te traz experiências muito autênticas pois você obrigatoriamente irá transitar por lugares não turísticos. A desvantagem é que não dá pra mudar de ideia e voar de um canto do mundo para o outro do dia para noite, é preciso percorrer o planejado para se chegar onde quer, mesmo que isso signifique algumas regiões de conflito.
ND: Divide com a gente alguma situação tensa ou engraçada envolvendo o Curumim?
Nosso marcador de combustível não funciona desde o Tajiquistão e por vacilo nosso ficamos sem diesel na Mongólia, um país que você pode passar dias sem ver um carro ou pessoa. Depois de algumas horas surgiu um caminhão carregando diesel que não ia parar mas eu (Isa) corri atrás dele com um galão na mão até ele parar e o convenci a me vender 10 litros. Mesmo colocando os 10 litros o carro não funcionou então depois de mais algumas horas (estávamos com sorte, dois caminhões no mesmo dia! veio um segundo caminhão carregando um container e acenei com a mão para pedir ajuda. O caminhão virou de repente e começou a vir em nossa direção atravessando freneticamente a estrada de areia fofa até que de repente ele atolou. Deixei o Rafa – que estava checando o motor do carro para ver se não tinha algum outro problema além da falta de diesel – e fui ajudar a desatolar o caminhão, (passamos de um para dois problemas), quando cheguei lá o motorista estava completamente bêbado e com a pá nas mãos ajudei ele a cavar até finalmente sair com o caminhão e vir nos ajudar. A comunicação era praticamente nula e o cara bem chapado, se ofereceu para puxar o nosso carro para onde ele estava indo. Olhamos um para o outro e pensamos: qual será a nossa próxima chance de encontrar um maluco que ofereça para puxar o Curumim por mais 50 km em estrada de areia? Não pensamos duas vezes, amarramos uma cinta de reboque no caminhão e seguimos com ele. Uma bela aventura!
ND: Vocês acamparam bastante. Qual foi o lugar mais mágico em que dormiram? Recomendam montar uma barraca pelo menos uma vez na vida? Por que?
Acampamos pelo menos 90% dos dias viajados. Difícil citar um único lugar, tiveram muitos lugares mágicos, porém o mais inusitado com certeza foi no Turcomenistão, ao lado de uma cratera de fogo (Porta do Inferno) no deserto de Karakum. Espetacular!!!
Com certeza recomendamos acampar pelo menos uma vez na vida! Nada melhor que passar a noite em harmonia com a natureza, debaixo de um céu estrelado! Costumamos dizer que temos um hotel de um bilhão de estrelas!
ND: Com quantos reais vocês viviam, em média, por dia? Já chegaram a ficar completamente sem grana? O que fizeram?
Fazendo uma média do dólar a 3 reais, vivíamos com R$164 por dia, isso inclui todos os gastos da viagem (envio de carro, voos, problemas mecânicos etc). Nosso dinheiro acabou antes de irmos para a África. Viajamos 6 meses na África na base da dívida. Agora precisamos pagar as contas. (risos)
ND: A cena mais linda dessa viagem foi…
Sermos ajudados por pessoas que quase nada tinham, isso sempre mexeu muito com a gente.
ND: Como vocês montaram o roteiro, com alguns lugares bem diferentes dos convencionais?
Saímos de casa para viajar a América do Sul, África e Ásia e o roteiro foi sendo criado na estrada, bem livre, de acordo com situações e lugares de maior interesse. Gostamos de fugir do convencional e a Ásia Central foi o lugar certo pra isso, Turcomenistão, Uzbequistão, Tajiquistão, Quirguistão, Cazaquistão e Mongólia, lugares que fogem do convencional e do turismo de massa, ainda bem autênticos!
ND: Chegaram a aprender uma língua nova, uma atividade nova? Qual foi a experiência mais “fora da caixinha” que viveram?
Aprendemos olá, obrigado, números e algumas outras palavrinhas em muitas línguas, mas já esquecemos boa parte delas…O convívio com as culturas é sempre “fora da caixinha”. Por exemplo, bebendo leite fermentado de égua com os nômades na Mongólia, dormindo na casa de um jovem casal muçulmano tradicional no Irã, com uma tribo nas montanhas do Laos ou na escola primária de uma tribo Himba na Namíbia. Além disso outra experiência muito legal que adoramos foi o curso de Yoga que eu fiz de 30 dias na Índia e o de 10 dias de meditação e silêncio absoluto do Rafa na Tailândia. Ah, sem contar quando nos penduramos a 600 metros de altitude no cabo de aço que uns garotos penduraram para fazer “highline” na famosa Preikenstolen, de frente para os fiordes na Noruega.
ND: E a comida, hein…o que vocês mais gostaram de comer e recomendam que todo mundo tire uma casquinha? Algum sabor muito exótico?
Kashk E Bandejam no Irã, Nasi Goreng na Indonésia, Tom Yum e Pad Thai na Tailândia. Os sabores mais exóticos vinham dessas misturas na Ásia, o doce, o azedo, o picante e o salgado.
ND:A Mongólia tem uma cultura bem diferente da ocidental e ainda é pouco explorada pelos brasileiros. Valeu a pena ir tão longe?
Valeu muito! Principalmente de carro, um país para ser explorado com calma, tempo e liberdade. Passamos 2 meses viajando pela Mongólia e amamos, foi o país mais intocado que conhecemos, principalmente no oeste.
ND: É incrível que vocês foram até Turcomenistão e viram de perto a Porta do Inferno. Foi difícil chegar até lá?
Foi uma experiência incrível viajar o Turcomenistão, um país ainda bem fechado para o mundo. O visto não foi tão simples e para viajantes independentes dão apenas 5 dias para trânsito, não é um país nem um pouco livre. Mas uma cultura muito interessante e um povo extremamente cordial. A Porta do Inferno é uma atração a parte, o lugar é simplesmente surreal! As estradas até o lugar não são boas e está literalmente no meio do deserto sem nenhuma infraestrutura, amamos!
ND: O que o livro vai ter de diferente do blog? Houve contato com alguma editora?
O blog é um relato mais por alto do que foi a nossa viagem, falamos mais da nossa passagem pelos destinos sem entrar muito em detalhes. O livro é um relato mais detalhado da nossa volta ao mundo de carro, com textos e fotografias inéditas contamos do nosso dia a dia na estrada, das pessoas que cruzaram nosso caminho, os perrengues, momentos bons, nossa maneira de lidar com as diferenças culturais, as maravilhas e dificuldades de uma vida nômade, nossas percepções e um pouco da história dos países que viajamos.
Não buscamos uma editora, estamos fazendo o financiamento coletivo para publica-lo de maneira independente, mas estamos abertos a algo que possa surgir. Aliás, quem quiser contribuir o financiamento está no ar no Catarse.
ND: Depois desse sonho realizado, qual é o próximo passo da vida de vocês?
Publicar esse livro, trabalhar para pagar as dívidas e planejar as próximas viagens.
Que tal trabalhar de um café em Paris? Ou de uma praia na Tailândia? Ou quem sabe, de um restaurante em Tóquio? Se você acha que essa realidade é utópica demais, saiba que estamos na crista da onda de um movimento global formado por pessoas que conseguiram realizar o sonho de trabalhar viajando. Com a evolução da internet e das tecnologias móveis, os Nômades Digitais cada dia mais provam que não é mais preciso trabalhar de um escritório para ganhar dinheiro e ser produtivo.
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