Brasileiros Viajantes

9 coisas que me fascinaram pela vida na Inglaterra

Hoje o quadro Brasileiros Viajantes (se ainda não conhece, descubra aqui e saiba como pode até participar) vai até Inglaterra, onde encontra Ricardo Dalbem, o convidado da semana. Vem ler o que mais o impressiona no estilo de vida de lá:

A primeira ida ao Reino Unido foi para uma visita de apenas 8 dias e se transformou em uma estada de 5 meses. Quando saí do Brasil em direção a Europa, o sonho era ir para lá, mas o receio de ser barrado na imigração bretã me fez optar em ir primeiro para Barcelona, onde permaneci 3 meses trabalhando. Após vencer o visto (de turista), rumei para a Inglaterra para renovar o visto da região do acordo Schengen, sem ter me informado que ele só poderia ser renovado depois de 9 meses fora (o que não é verdade na prática, mas isso é assunto para outro texto!). Chegando lá, fiquei encantado pela arquitetura, cultura, boa vontade do povo e quem diria, pelo clima! Finalmente, tinha o tão sonhado visto de 6 meses no passaporte, que não deveria ser desperdiçado!

Na segunda oportunidade, uma breve estadia de 2 semanas em uma viagem de quase 3 meses com minha atual companheira, que me permitiu rever a confirmar as impressões da primeira viagem, conhecer outras cidades e pubs, mais um Parque Nacional e fazer novas fotos, algumas das quais apresento aqui. Esta passagem me deu um gostinho de “quero mais”! E ainda falta conhecer a Escócia e a Irlanda do Norte…

1. Arquitetura e paisagismo

Foi a primeira coisa que me chamou a atenção quando botei os pés nos pagos bretões. As construções possuem um charme todo especial, seja na capital Londres, seja nas mais remotas vilas interioranas. Em cada região há um estilo: em Londres predominam os tijolos à vista, em algumas regiões as casas são feitas com um tipo de pedra amarelo, em outras são feitas com uma pedra mais escura. A disposição dos telhados, janelas e portas em cada construção são únicas. Além disso, existem belos gramados e jardins por todos os lados, nas casas, nos pequenos espaços remanescentes, nas praças e parques. Em muitas vilas, as casas parecem saídas de um conto de fadas. Várias delas têm um nome carinhoso, afixado numa placa em frente.

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2. Educação e presteza

As pessoas são muito educadas e prestativas. Seja num comércio ou na rua, as pessoas se esforçam para prestar informações e, por vezes, podem se desviar de seus caminhos para te conduzir ao ponto desejado. Numa ocasião, enquanto começava a fazer a travessia em um parque nacional e pedia carona, fui levado até a casa do cidadão, onde este abriu um mapa e nos indicou as rotas possíveis. Em outra, fui convidado a tomar chá na casa do meu anfitrião num camping barn (galpão de acampamento, explicado mais abaixo), e ganhei um mapa de presente. Uma vez, vi caixas de ovos a venda na frente da fazenda, com um cartaz com o preço e uma pequena lata para depositar a moeda de um pound. Este ponto é salientado em pequenas vilas, áreas rurais, ou quando descobrem nossa nacionalidade.

O conjunto de tudo isso é ainda mais forte, pois deve ser bem raro um brasileiro passeando por locais “out of the beaten track” (“fora da trilha batida”), como as grandes e famosas cidades turísticas como Londres, Liverpool, York ou Edinburgh. Geralmente, esses locais são procurados por turistas regionais, que buscam tranquilidade e descanso. Para mim, são os melhores, ocupando a maior parte do tempo de viagem, pois é aqui que se tem melhor contato com a cultura local, sem tanta contaminação pelo turismo de massa, e se pode ter um contato maior com a natureza. Esqueça aquele estereótipo de frieza, pois será tratado com carinho, apenas não espere um abraço ou aperto de mão caloroso. É o jeito do povo.

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3. Pubs

Cada qual é singular na sua própria existência. Para começar, os nomes são ao mesmo tempo requintados e singelos: The Old Nag (“O Velho Cavalo”), Dog and Duck (“Cachorro e Pato”). São locais aconchegantes, refinados. Em qualquer lugar do país, seja numa região turística ou mesmo num bairro popular de Londres ou numa pequena vila, não vai ser aquele boteco com cadeiras de plástico, música alta e ruim, cerveja cara e aguada que estamos acostumados no Brasil. As paredes provavelmente serão acarpetadas, assim como o piso, o ambiente estará aquecido por calefação ou com lareira, as pessoas conversarão em voz baixa, e a cerveja será servida direto da torneira e, se estiveres no interior, serão de marcas locais e com preço razoável.

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4. Cerveja

Continuando do tópico acima, é outro ponto forte do Reino Unido. Aqui, existem variados tipos de cerveja, que se dividem basicamente em dois tipos (talvez algum especialista identifique mais): lager e bitter (ou ale). A lager é a cerveja como conhecemos aqui no Brasil, amarela, refrescante, leve. A bitter é, como o nome diz, amarga, encorpada. Como amante das novidades, sempre dou preferência às ales, pois sei que não as encontraria quando retornasse.

O mais incrível é a imensa quantidade de cervejas existentes, tanto nos supermercados, como nos pubs. Nestes últimos locais é que é possível encontrar e degustar as melhores e mais típicas marcas, servidas “straight from the tap” (“direto da torneira” – entenda-se chopp) boa parte delas produzida localmente em quantidades limitadas e, portanto, somente encontrada naquela região (ou naquele pub específico).

5. Caminhos públicos

Para mim, é um dos maiores atrativos deste país. O Reino Unido é percorrido por milhares de caminhos públicos. São caminhos nos quais a passagem de qualquer pessoa é permitida, passando por dentro de vilas, cidades (em Londres existem muitos, o mais famoso sendo o Thames Path, que leva vários dias para ser percorrido), propriedades particulares, fazendas, parques nacionais, florestas e campos. Estão indicados nos mapas topográficos que podem ser facilmente adquiridos nos centros de informação turística, existentes em qualquer povoado. Em campo, por vezes existem singelas placas de madeira que indicam a direção a seguir e as vezes até a distância. O mais legal é que existem alguns que levam semanas para serem percorridos, atravessando cidades e vários parques nacionais (o Penine Way, por exemplo, leva 21 dias e atravessa três parques nacionais na região central até o nordeste da Inglaterra). Enfim, eles permitem um grande contato com a natureza, travessias e a realização de atividade física. É muito bom adentrar campo ou mata afora sabendo que não se está “invadindo” uma propriedade particular e podendo ter problemas. Aqui é só seguir as placas, as trilhas ou o caminho pontilhado do mapa.

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6. Contato com a natureza

Esse é um lado não muito óbvio, mas aqui é possível ter um grande contato com a natureza. A princípio nós, naturais de um país tropical com grande biodiversidade, podemos ficar um tanto incrédulos com essa afirmação. Claro que a grandiosidade da paisagem natural e a biodiversidade no Reino Unido são inferiores aos do Brasil. Mas a questão é ao mesmo tempo mais prática e mais profunda: por aqui, além da existência dos caminhos públicos citados acima, a entrada nos parques nacionais é estimulada e os mesmos são acessíveis, por vezes é permitido acampar lá dentro, há mais informações disponíveis e o sistema de transporte é ótimo. É muito mais fácil avistar animais, sejam nos parques urbanos, semi-domesticados (esquilos), ou selvagens, como veados que por vezes avistei em pequenas matas ou campos, animal que nunca vi na natureza no Brasil. Aqui as pessoas tem uma relação mais amigável com eles. O custo benefício dos equipamentos de caminhada é ótimo. As pessoas têm de fato o costume de sair para interagir com a natureza, seja numa tranquila caminhada num caminho público ao redor de uma vila turística, ou num grande trekking de travessia. No Brasil, culturalmente, isso é tachado de programa de índio. Sei disso por experiência própria. Aqui existe um prêmio, diploma, certificado, enfim, chamado “Duke of Edinburgh”, concedido a jovens adolescentes durante sua vila escolar, para aqueles que cumprem o pré-requisito do desafio: fazer uma grande travessia, se orientando através de cartas topográficas e bússola, acampando, trabalhando em grupo. O mais legal é que isso entra no currículo do jovem e é considerado até como ponto adicional quando este busca um emprego. E a faixa etária mais encontrada nestas caminhadas são de pessoas idosas, enfrentando frio, chuva e vento, com suas capas, mochilas e bastões. Incrível.

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7. Camping e camping barn

Seguindo os tópicos a respeito de contato com a natureza, é outra ótima opção para caminhantes e aventureiros. Existem numerosas áreas de camping pelo país, bem sinalizadas, todas impecáveis, com banheiro perfeitos e um gramado lindo. Ademais, pelo preço de um camping (em geral em torno de 6 libras), nos camping barns você dorme num “galpão de acampamento”, com teto, paredes, ducha quente e banheiro. Às vezes existe cozinha e luz elétrica. Se não, você precisa do seu fogareiro e lanterna. Desta forma, você fica mais protegido e não precisa carregar barraca. É preciso levar saco de dormir e/ou isolante, visto que se dorme no chão sobre um assoalho de madeira que é relativamente confortável, pois não puxa umidade e é mais macio do que num piso de concreto ou cerâmica, por exemplo.

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8. Promoções no transporte público

Muito bom para quem está viajando e consegue se organizar um pouco. Comprando passagens de trem ou, melhor ainda, de ônibus, é possível ir muito longe gastando pouco. Basta comprar no site na internet da empresa e economizar um bocado, o que, para quem paga aproximadamente R$ 4 para cada libra esterlina, faz uma enorme diferença. Ou mesmo que você viva aqui e ganhe em libras, vai dar pra tomar aquela cervejinha no pub do local de destino. Recomendo a Nationalexpress e a Megabus, que operam ônibus que apesar de terem poltronas inferiores, tem preços ótimo. Para trens, é possível consultar a extensa rede ferroviária do país em National Rail Enquiries. Como o país é pequeno, as viagens em geral não levam mais que 5 horas, a não ser que você saia de Londres para a Escócia.

9. Clima

Não é tão tenebroso quanto se imagina. Morei cinco meses em Londres e fiz algumas viagens para o interior (de março a julho) e achei o clima maravilhoso. Ok, admito que não peguei o auge do inverno, mas creio que ele dura só 3 meses. Durante o tempo que lá estive, era sempre uma alternância de sol e nuvens, com pancadas de chuva ocasionais. Por vezes, tínhamos dias chuvosos, mas era raríssimo uma bomba d’água realmente forte, daquelas que te ensopam. Realmente você precisa sempre estar preparado para a chuva, mas em compensação, você não fica suando que nem um porco. Isso permite inclusive se vestir de maneira elegante e confortável. Justamente pelo fato das roupas serem apropriadas (e baratas) e as casas serem bem equipadas com insulação e calefação, se sofre menos com o clima nos pagos bretões do que em minha cidade natal (Porto Alegre, onde se passa frio durante aproximadamente dois meses do ano, e se derrete durante outros dois meses).

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Todas as fotos © Ricardo Dalbem

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Para acompanhar as aventuras de Ricardo Dalbem, siga “O Buraco do Espelho“.

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