Nesta edição do Brasileiros Viajantes, decidimos inovar – se até aqui temos mostrado sempre motivos pelos quais você se deve mudar para um país, o lado bonitinho e rosa das cidades, hoje optamos por mostrar o que Natália Godoy, brasileira que vive há mais de 2 anos na Austrália, tem para dizer sobre os probleminhas que enfrenta vivendo por lá. Depois dos 10 motivos para se mudar para o país, chegou a hora de ver o outro lado da moeda.
Depois de uns anos morando no exterior, a tendência é de que tudo que a gente achava o máximo no início passe a se incorporar à nossa rotina, deixando de nos chamar tanta atenção. Por isso eu adoro quando encontro brasileiros recém-chegados na Austrália. Eles me relembram os motivos que me fizeram optar por viver em Sydney – invariavelmente ligados à segurança, organização, estilo de vida e tudo aquilo que a gente já tá careca de saber.
Fato é que depois de 2 anos e meio vivendo aqui, além de nem sempre dar o devido valor para todas essas coisas bacanas, andei me flagrando com umas reclamações sobre a Austrália – todas bobas, é claro, típicas de primeiro mundo #firstworldproblems. Mas se você tem planos de vir prá cá, é sempre bom saber de antemão.
Dá uma olhada:
1. Funcionamento dos postos de gasolina
Com a mão de obra cara daqui (ou apenas por uma questão cultural mesmo), quem tem que abastecer o carro é o próprio cliente. Pode não ser tão cômodo quanto ter um frentista à disposição, mas não cai pedaço e é até divertido no começo. O problema é a pessoa: 1) enche o tanque, 2) entra de volta no carro, 3) pega carteira, 4) vai lá pagar, 5) dá uma olhadinha na loja de conveniência, 6) pega o café… Enquanto isso o carro dela segue na frente das bombas e você atrás, apreciando o processo todo. Claro que isso não acontece toda hora e acho que com o ritmo menos frenético deles ninguém se importa se tiver que esperar um pouquinho (exceto alguns brasileiros que adoram reclamar de fila…).

Essa senhorinha resolveu fazer uma limpeza completa antes de liberar a vaga para próximo
2. Não dá para parcelar compra
Esquece tudo que você aprendeu sobre compra agora e só começa a pagar ano que vem. Se não tem a bufunfa na lata, não leva. Quando trabalhei numa loja de biquíni, as meninas me explicaram como funciona o sistema de layby, que é a maior facilidade que o comércio concede em termos de condições de pagamento. É mais ou menos assim: o biquíni custa $100, mas você só tem $30. Então você deixa os $30 de depósito, eles guardam a peça e te dão um prazo para pagar. Toda semana você vai lá na loja pagar a prestação do biquíni. Quando quitar, aí sim que já pode levar a peça (e torcer para que o inverno não tenha chegado!).
3. Vida selvagem
Entre coalas fofos e cangurus saltitantes, alguns zoológicos daqui também exibem um mundo de insetos nada meigo. Em um deles fiquei sabendo que na Austrália reside umas das aranhas mais venenosas do mundo, e vi a maior barata que existe na face da Terra. Pra piorar, a presença desses bichos não se limita ao zoológico. Já me deparei com aranhas gigantes em dois apartamentos onde morei. E à noite, uma fauna intensa sai da toca. Ao olhar para cima, verás que os morcegos tomaram conta da paisagem. Ao olhar para baixo, é preciso tomar cuidado com as baratas. É com o entardecer que possuns também fazem as vezes. No começo eu achava que eram uns coelhinhos fofinhos, até os danados começarem a me acordar no meio da noite com suas brigas raivosas e barulhentas no telhado de casa. Portanto desconfie se falarem que a Austrália é um país tão seguro assim…

Além de não se intimidar com a proximidade de pessoas, esse lagarto ainda fez pose pra nossa selfie
4. Pássaros barulhentos e gaivotas
Embora eu sempre tenha sido uma grande apreciadora da natureza e dos belos cantos dos nossos sabiás e bem-te-vis, aqui não dá prá aguentar. Os pássaros locais soam quase como mini-monstros, é difícil descrever um canto tão desengonçado e nada gracioso dos cockatoos e outras aves exóticas, que invariavelmente me acordam todas as manhãs. Com relação às gaivotas, não se iluda com a beleza delas. Além de barulhentas, estão sempre ao redor dos turistas disputando a vida por um pedaço de batata frita. E essa disputa não acontece apenas entre elas; uma vez uma danada deu uma rasante e bicou um teco do meu sanduíche bem na minha frente! Para a sorte dela, eu não me importo em dividir comida…
Gaivotas parecem legais. Mas não são.
5. Preço dos serviços
Assim que cheguei na Austrália eu fazia uns comparativos que não faziam muito sentido na minha cabeça. Por exemplo: com o equivalente ao valor das passagens para o centro de Sydney, eu também poderia comprar umas 2 ou 3 blusinhas. No Brasil jamais estabeleceria uma relação entre os R$ 50 (médios) de uma peça de roupa, com menos de R$ 5 de transporte público. Essa proporção esquisita entre serviços caros e produtos baratos se dá graças à proximidade da Austrália com a Ásia. Outro exemplo clássico foi de um vestido que comprei na Indonésia por $15. Para costurar a bainha dele, de volta em Sydney, paguei $25.
Algumas lojas não parecem estar felizes com a competição asiática
6. Álcool em locais públicos
Aparentemente aqui a galera perde o controle quando se trata de bebida alcoólica, por isso a lei é rigorosa ao proibir o consumo delas em locais públicos. Não que minha qualidade de vida dependa de uns pileques na praça, mas uns drinkezinhos inocentes na praia não fazem mal a ninguém, não é? De qualquer forma, tenho a impressão que a polícia faz vista grossa com os vinhos que circulam nas rodas comportadas de picnics. Então o negócio é se acostumar com uma prainha abstemia e depois brindar no parque.
7. Shows pouco animados
Sabe quando os artistas internacionais fazem shows no Brasil e elogiam a animação e calor humano da plateia? Não é para agradar ao público que eles falam isso. Depois que fui a alguns shows aqui, percebi que são todos muito civilizados, sem empurra-empurra nem aquela bagunça típicos de grandes eventos no Brasil. Em compensação, a vibração da plateia aqui deixa a desejar. O pessoal não se doa, não grita besteira, não põe as amigas na garupa (nem manda descer!), não pula, balança os braços ou canta alto junto. Normalmente o artista tem que pedir alguma forma de interação do público, senão todo mundo é meio parede. Dependendo do show, assistem sentados mesmo. Angustiante.

Todo mundo comportadinho no show do Jack Johnson no Opera House
8. Isolamento do país
A distância e isolamento da Austrália com relação ao resto do mundo dificultam, encarecem e prolongam qualquer plano de viagem. Receber uma visita aqui significa uma verdadeira prova de amor. Mesmo a Indonésia, um dos destinos mais populares para os australianos, leva pelo menos 6 horas de viagem. Fora que a distância implica numa diferença de fuso horário que nocauteia qualquer viajante.

Todas as fotos © Natália Godoy

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