Nessa edição do Brasileiros Viajantes, quem dá as dicas são Debbie Corrano e Felipe Pacheco, do blog Pequenos Monstros que, desde abril de 2014, se mudaram para Berlim com seus dois cachorros com o plano de chamar essa cidade de casa pelos próximos meses. E, pelo visto, eles não se arrependeram nenhum pouco.

Berlim é o tipo de lugar que divide opiniões: alguns amam profundamente, outros acham toda a popularidade da cidade sem uma boa justificativa. O frio, um lugar com tanta história embutida, a língua, o comportamento dos alemães…cada um reage de uma forma diferente a tantas mudanças de uma só vez. No começo desse ano nos mudamos para Berlim com nossos dois cachorros, mesmo sem nunca termos pisado aqui antes. E tivemos várias surpresas positivas desde então.

Para nós, a paixão por Berlim foi instantânea justamente pela mudança tão brusca. Mas o amor veio aos poucos, com alguns detalhes simples do cotidiano que fazem uma diferença enorme quando você vive em um lugar, deixando sua vida mais leve e feliz. Ficamos pensando aqui no que tem nos feito gostar tanto da cidade e fizemos uma listinha com alguns dos motivos.

Um dos motivos para escolhermos Berlim como nosso primeiro destino para chamar de casa na Europa foi porque a cidade é extremamente dog friendly e nós viemos com nossos dois cachorros. A Lisa e o Luca demoraram um pouco para se adaptar ao estilo alemão, já que todos são obrigatoriamente adestrados quando adotados. Por isso mesmo, a convivência com os peludos em todos os lugares é super comum. Os cachorros, super educados, andam sem coleira junto com seus donos e os esperam para atravessar cada rua, quase nunca latem e respondem de primeira aos comandos. Eles são tão comportados que não tem como dizer que não são alemães.

Você vê cachorros nos restaurantes, bares, shoppings, metrô, ônibus, parques, feiras de rua, farmácias, casas de amigos e até no trabalho, já que muitas empresas não veem problema algum nisso. Os poucos lugares que não aceitam animais são os supermercados e alguns ambientes comandados por turcos. De qualquer forma, se não houver uma sinalização na porta do local mostrando que cachorros são proibidos, significa que você pode entrar com eles.

Saindo de São Paulo, que tem pouquíssimas áreas verdes, para uma cidade com mais de 2500 parques e praças é uma mudança e tanto. Pra vocês terem ideia, 11,5% da grande Berlim são áreas de recreação e 6,6% são florestas! O hábito de passar a tarde em algum parque é muito europeu, mas aqui tem a vantagem de você poder fazer isso em literalmente qualquer lugar da cidade. No caminho para o trabalho, na hora do almoço, no fim do dia e até durante a noite, no escuro, quando o tempo permite, é hora de sentar na praça, abrir uma cerveja e relaxar. Nossos cachorros nunca tinham passeado e explorado tanto a natureza como em Berlim, e é maravilhoso ver como a qualidade de vida das pessoas, das crianças e dos animais aqui é ainda melhor por causa de todo esse verde.

Aqui em Berlim você encontra todas as variedades de comida que conseguir imaginar. Etiopiana, sudanesa, turca, vietnamita, koreana, cingapuriana, indiana, paquistanesa e, é claro, as já tradicionais italiana, francesa, brasileira, espanhola, portuguesa e mexicana. Ah! Às vezes você encontra algum restaurante alemão também. A verdade é que Berlim é uma cidade tão globalizada que a comida alemã praticamente só é encontrada em locais turísticos por aqui, e isso te dá opções infinitas para passear por diferentes culturas na hora do almoço e do jantar. Sem contar as milhares de opções vegetarianas e deliciosas disponíveis em todos os restaurantes e supermercados. Tem comida para boa pra todo mundo em Berlim.

Os parques que falamos aqui em cima são os grandes (mas não únicos!) responsáveis por esse ponto. Aqui você não precisa gastar uma grana em qualquer saída que você vá fazer. Comprar alguma coisa para beber e sentar no parque, na beira dos canais, na praça ou até nas escadarias dos lugares com os amigos é um programa super comum por esses lados.

Só que além desse tipo de programa mais tranquilo, também existem várias outras coisas para fazer sem gastar praticamente nada: ir a alguns museus, subir no terraço do Reichstag para ver a vista panorâmica da cidade, passear pelos bairros e descobrir artes de rua, festas em lugares abertos, mercados de pulgas e até muitas galerias de arte.

Aqui você vai se acostumar a ver pessoas tatuadas até a sobrancelha passeando com seus filhos tranquilamente sob o sol, góticos andando de bicicleta, senhoras de idade punks de moicano trabalhando dentro da prefeitura, gente nadando pelados nos lagos públicos e tomando sol de calcinha e sutiã em qualquer parque no meio da cidade. E essa é uma das coisas mais incríveis dessa cidade: as pessoas não te julgam por isso. Você vai passar por tantas pessoas que fogem do padrão que a sociedade considera “normal” que depois de duas semanas nem nota mais.

E não é só sobre estilo que falamos aqui. É sobre liberdade, num geral, de ser quem você quiser. A liberdade de andar de bicicleta usando saia, usar meia calça transparente no lugar de um jeans ou calçar um tênis de cada cor e ninguém questionar sua escolha.

Assim como a comida de diferentes lugares do mundo, é muito comum você conhecer pessoas de outros países por esses lados da Alemanha. Berlim é a segunda cidade mais populosa da União Européia, e de todos que vivem aqui, 15% são estrangeiros. Encontrar algum alemão que nasceu e mora aqui em Berlim, então, é ainda mais complicado. A parte mais legal disso tudo é a mistura de culturas que você vive, fazendo amizade com pessoas de várias nacionalidades e aprendendo um pouco com cada um deles. Por isso, em muitos lugares você não terá problemas ao falar inglês, especialmente com jovens, já que muitos bairros usam a língua quase que de forma oficial.

Uma das experiências mais legais de morar aqui é voltar para casa a pé ou de bicicleta às 3h da manhã, andando na beira do canal e nas ruas enormes e desertas, sem medo nenhum. Um contraste enorme com São Paulo, que só se anda de taxi ou carro, especialmente de madrugada. Mesmo que a criminalidade tenha aumentado nos últimos anos por causa da crise, ainda é raro você ouvir falar de assaltos por aqui. Os dois maiores problemas de segurança em Berlim são de roubos de bicicleta – que acontecem a toda hora, inclusive com a –, e batedor de carteira em ruas movimentadas ou de pertences soltos em restaurantes ou bares, nunca ameaçando a vida de ninguém.

Não é novidade para ninguém que Berlim é uma cidade com metrô super completo e ciclovias que ligam a cidade de ponta a ponta. Só que muito além disso, você consegue unir os diferentes meios de transporte para completar seu trajeto. Pode-se ir de bicicleta até o metrô, entra com ela, chegar até a estação do seu trabalho, descer e pedalar até lá. Eles também possuem ônibus 24 horas, tram – que é uma espécie de bonde elétrico – e até ferries que passam pelos canais. E isso faz com que você tenha diferentes formas de chegar em um mesmo lugar usando transporte público, mesclando um método com o outro para o que você se adaptar melhor.

A Alemanha toda é conhecida por suas cervejas diferentes e encorpadas, pela Oktoberfest e por estar no terceiro lugar dos países que mais bebem cerveja no mundo. E a cultura da cerveja aqui é uma coisa muito bacana. Para começar, muitas vezes a cerveja é mais barata do que água (!). No intervalo do trabalho é totalmente normal você ver as pessoas tomando sua cerveja enquanto almoçam. Ou ir até uma praça às 9 da manhã e ver um senhor engravatado sentado em um banco terminando sua cerveja antes de ir para o escritório. E ninguém te acha alcoólatra por isso. Como aqui é uma das poucas cidades européias que é permitido beber na rua, é bem comum você ver as pessoas para lá e para cá com sua garrafinha de cerveja na mão.

Berlim é considerada a capital criativa e cultural da Europa, então esse é um ponto super marcante. A cidade tem muitos artistas e pessoas trabalhando em áreas criativas – isso resulta em mais ou menos 10% do PIB daqui. Então é muito fácil ver instalações incríveis surgindo da noite para o dia. Espaços enormes e bunkers que foram abandonados pós guerra são ocupados por artistas, que os transformam em galeria de arte e/ou baladas. Alguns bairros tem centenas de galerias de arte independentes. A arte de rua é extremamente presente em todos os lugares e se renova diariamente. São vários exemplos, e parece que tudo aqui tem potencial de virar arte, seja um móvel abandonado na rua a uma casa semi destruída. A cidade toda parece uma grande instalação artística dentro de um ambiente histórico, deixando esse contraste transbordar o tempo todo.Essa quantidade enorme de pessoas jovens, criativas e com a cabeça aberta que vivem aqui se refletem em vários pontos, desde como a cidade trata espaço público até o estilo de quem vive em Berlim, sempre com um formato próprio, criando as próprias tendências, desenhando lugares, ambientes, e móveis únicos, montando eventos e festas diferentes, deixando a cidade ainda mais única e inspiradora.

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